Oswaldo Cruz foi um sanitarista que se tornou um dos grandes nomes da saúde pública no Brasil. Ele ficou conhecido por atuar na análise de diversas epidemias, propondo a criação de soros e vacinas. Atuou também para acabar com a varíola, febre amarela e peste bubônica no Rio de Janeiro, no começo do século XX.
Oswaldo Gonçalves Cruz nasceu no dia 5 de agosto de 1872, em uma cidade do interior de São Paulo chamada São Luiz do Paraitinga. Ele era filho do casal formado por Bento Gonçalves Cruz e Amália Taborda Bulhões Cruz, que, além de Oswaldo, tiveram ainda outras cinco filhas.
O pai de Oswaldo Cruz era médico e, a partir de 1877, passou a praticar o ofício no Rio de Janeiro, a capital do Brasil. Lá Bento Gonçalves tinha uma pequena clínica com um número satisfatório de clientes. Oswaldo Cruz seguiu os passos do pai e, em 1886, ingressou na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro.
A fase acadêmica de Oswaldo Cruz se encerrou em 1892, quando ele finalizou o seu doutoramento, com uma tese na área de microbiologia chamada A veiculação microbiana sobre as águas. Os estudos realizados por Oswaldo Cruz analisavam o papel de micro-organismos na difusão de doenças.
A morte de Bento Gonçalves fez com que Oswaldo Cruz fosse obrigado a administrar a clínica de seu pai. Nessa altura, Oswaldo também possuía um bom laboratório, conforme registros de muitos biógrafos. Esse laboratório tinha sido um presente de casamento de seu sogro, o pai de sua esposa, Emília da Fonseca.
Outra significativa contribuição do sogro de Oswaldo Cruz para a carreira médica dele foi a permissão para que Oswaldo pudesse ir para a França estudar. As despesas da viagem de Oswaldo Cruz foram integralmente pagas pelo sogro dele e Oswaldo foi para Paris, onde estudou no Instituto Pasteur e no Instituto de Toxicologia.
Na França, ela inda pôde estudar uma gama de assuntos, como bacteriologia, soroterapia, imunologia, medicina legal e urologia. Ele retornou para o Brasil em 1899 e montou uma clínica de urologia e um laboratório no Rio de Janeiro.
A primeira contribuição significativa de Oswaldo Cruz com a saúde pública se deu antes de sua viagem para a França. Em 1894, a região do Vale do Paraíba foi atingida por uma epidemia de cólera e as autoridades sanitárias do Brasil começaram a investigar se de fato o mal que afetava a região era essa doença bacteriana.
Os médicos da região diziam que o que afetava o Vale do Paraíba era uma disenteria não contagiosa, mas as autoridades decidiram criar o Instituto Sanitário Federal para investigar a questão. O chefe do instituto, Francisco Fajardo, convidou Oswaldo Cruz e Eduardo Chapot-Prévost para que eles analisassem a situação.
Oswaldo Cruz analisava amostras obtidas na região em seu laboratório particular e, juntamente a Chapot-Prévost, concluiu que havia a presença do Vibrio cholerae, o agente que provoca a cólera. A partir dos laudos emitidos por esses dois, as autoridades de três estados (São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais) iniciaram uma série de ações de saneamento para evitar novos surtos da doença.
Em 1899, Oswaldo Cruz foi novamente convidado para analisar um surto epidêmico. Dessa vez, ele investigaria um possível surto de peste bubônica na cidade de Santos. Oswaldo demonstrou que de fato havia um surto da doença, o que mobilizou as autoridades locais para realizar a produção do soro antipestoso, o tratamento disponível na época.
Desse interesse em produzir o soro antipestoso, foram criadas duas importantes instituições sanitárias: o Instituto Butantã, em São Paulo, e o Instituto Soroterápico Federal, no Rio de Janeiro. Já em 1900, as primeiras doses de soro antipestoso tinham sido produzidas e, em 1902, Oswaldo Cruz assumiu a direção do Instituto Soroterápico Federal.
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No ano de 1903, Oswaldo Cruz foi convidado a assumir o posto mais importante de sua vida. O ministro da Justiça, José Joaquim Seabra, convidou-o a assumir a Diretoria-Geral de Saúde Pública (DGSP), a pasta que corresponde ao atual Ministério da Saúde. O principal desafio dele era combater os surtos epidêmicos que atingiam o Rio de Janeiro.
O Rio de Janeiro sofria rotineiramente com a ação de varíola, febre amarela e peste bubônica, e o combate a essas doenças fazia parte de um plano de revitalização da cidade que juntava embelezamento arquitetônico e modernização sanitária. No tocante às questões sanitárias, Oswaldo Cruz foi o responsável por conduzi-las.
No caso da febre amarela e da peste bubônica, a ação de Oswaldo Cruz foi de priorizar o combate aos vetores dessas doenças. Com relação à febre amarela, combateram-se os mosquitos; no caso da peste bubônica, os ratos. Assim, brigadas sanitárias foram formadas com o intuito de promover a limpeza da cidade.
As ações dessas brigadas sanitárias focaram-se nas regiões portuária e central do Rio de Janeiro, invadindo casas e terrenos e fazendo a limpeza desses locais para impedir que água parada pudesse contribuir para a reprodução do mosquito causador da doença. Além disso, procurou-se isolar os doentes de febre amarela para evitar que eles contaminassem um grande número de mosquitos.
Já para a peste bubônica, a população foi orientada a caçar e entregar ratos para as autoridades sanitárias em troca de uma compensação financeira. Proprietários eram obrigados a manter suas propriedades limpas e os doentes eram isolados. Estima-se que milhares de ratos foram mortos pela campanha de desratização da cidade.
A ação mais controversa da gestão de Oswaldo Cruz se deu no combate à varíola. Essa era outra doença que afetava frequentemente a capital brasileira e a única forma de combater sua propagação era realizar a vacinação da população. A proposta de vacinação de Oswaldo Cruz foi controversa, porque se decidiu pela vacinação obrigatória.
A falta de informações da população somada à truculência da gestão sanitária na cidade fez com que a população se revoltasse contra a obrigatoriedade da vacinação. Essa campanha de vacinação obrigatória foi responsável pela vacinação de mais de 87 mil pessoas somente no ano de 1904|1|. Entretanto, em novembro, a situação saiu do controle.
A obrigatoriedade da vacina fez com que a população fosse às ruas manifestar sua indignação. Essa foi a Revolta da Vacina, iniciada em 10 de novembro de 1904. Só no dia 23 a situação começou a ser normalizada. A insatisfação popular levou a ações de vandalismo e confrontos contra a polícia na rua. Dezenas de pessoas morreram, e a obrigatoriedade da vacina foi suspensa.
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Oswaldo Cruz permaneceu na Diretoria-Geral de Saúde Pública até o ano de 1909, quando decidiu priorizar o Instituto Oswaldo Cruz, antigo Instituto Soroterápico Federal (renomeado em 1908). O sanitarista ainda foi convidado a participar de expedições no Pará e em Rondônia (ambas em 1910) para combater surtos de febre amarela e malária, respectivamente.
Esse cientista brasileiro de renome internacional, em 1907, chegou a ser homenageado no Congresso Internacional de Higiene e Democracia. Seu trabalho contribuiu para um significativo avanço nos padrões sanitários do país. Em 1915, Oswaldo Cruz decidiu afastar-se dos seus trabalhos na área sanitária por problemas de saúde.
Oswaldo Cruz sofria de nefrite, uma doença renal (a mesma que havia matado o pai do sanitarista). Ele se mudou para Petrópolis e lá se tornou prefeito da cidade em 1916, mas abandonou o cargo em janeiro de 1917 devido aos seus problemas de saúde. Os problemas renais de Oswaldo Cruz levaram-no à morte no dia 11 de fevereiro de 1917.