O desafio para a recuperação do dependente químico

A desintoxicação é a primeira etapa dos programas de tratamento que buscam possibilitar a abstinência e a recuperação do uso de drogas. Mas a desintoxicação por si mesma não constitui um tratamento de reabilitação e é raro quando se consegue ajudar a um paciente a conseguir uma abstinência duradoura.

Os tratamentos de desintoxicação em regime ambulatorial ou na comunidade são indicados, quando as pessoas com transtornos provocados pelas drogas conseguem ficar sem consumi-las sem sair da comunidade. Geralmente a desintoxicação se inicia no centro de atendimento ou na residência do paciente, com um período de estabilização, em que se administram substâncias de substituição. Nesse período o paciente pode receber aconselhamento, tratamento médico e outros serviços de apoio.

As pessoas com transtornos induzidos por substâncias ou provocados pela abstinência, que muito provavelmente não podem abster-se de drogas se permanecerem na comunidade, necessitam de um ambiente supervisionado e controlado por profissionais, e precisam entrar em um programa de internação ou residencial de curto prazo. Na maioria desses programas o usuário de drogas passa de uma etapa de desintoxicação para uma etapa de prevenção estruturada contra recaídas, aconselhamento e educação.

É preciso notar que algumas das pessoas que estão se abstendo de consumir drogas também sofrem de outros problemas físicos e psicológicos, que podem influir na administração do tratamento. Os programas de internação a curto prazo podem se constituir em uma oportunidade propícia para descobrir ou tratar esses problemas.

A reabilitação é a etapa de prevenção de recaídas. Nessa etapa se atende às necessidades das pessoas que concluíram um programa de desintoxicação e não apresentam sintomas de privação. Os programas de prevenção de recaídas ou de reabilitação têm por objetivo mudar o comportamento dos pacientes, para que possam colocar freio ao desejo de consumir drogas. Nessa etapa se aplicam intervenções psicossociais e farmacológicas.

Existem também programas em ambulatórios, em que se espera que os participantes participem de quatro a cinco dias por semana, várias horas por dia. Trata-se de ajudá-los a compreender e reconhecer melhor seu comportamento em relação ao consumo de drogas, com vistas a diminuir as consequências negativas dele decorrentes e a evitá-lo. As sessões de aconselhamento e educação individuais e em grupo podem girar em torno de questões relacionadas com o vírus HIV, as relações familiares, a formação profissional, a volta ao trabalho, o apoio em matéria de moradia e assuntos jurídicos.

Essas informações e outras orientações importantes para o tratamento da dependência química estão contidas no Manual sobre Tratamento do Abuso de Drogas adotado pela ONU (Organização das Nações Unidas).

O que são drogas

As substâncias que afetam o organismo humano e o comportamento de um indivíduo, produzindo alucinações e agressividade, são chamadas de drogas. A dependência química é chamada de vício ou em termos médicos e legais de “adicção”. Na verdade é uma doença em que há uma necessidade compulsiva de usar substâncias lícitas ou ilícitas que agem no sistema nervoso. No hábito arraigado, há um desenvolvimento de tolerância, fazendo com que as doses das substâncias sejam cada vez maiores, com mudanças de comportamento, emocionais e transtornos sociais.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), droga é qualquer substância não produzida pelo organismo, que tem a propriedade de atuar sobre um ou mais de seus sistemas, produzindo alterações em seu funcionamento.

A lista de substâncias na Classificação Internacional de Doenças, no Capítulo sobre Transtornos Mentais e Comportamentais, inclui as seguintes substâncias:

• Álcool; derivados do ópio, como morfina, heroína e outras substâncias sintéticas; Canabinoides, ou maconha; Sedativos ou hipnóticos, como barbitúricos e benzoadizepínicos, Cocaína; estimulantes como anfetaminas e cafeína; Alucinógenos; Cigarros ou tabaco e Solventes.

A classificação segundo os efeitos das drogas sobre o Sistema Nervoso Central (SNC), que podem ser observados na atividade mental ou no comportamento, são classificadas como:
• Drogas Depressoras da Atividade Mental, quando a consequência é a diminuição da atividade motora, da reação à dor e da ansiedade. É comum um efeito euforizante no início e, posteriormente, um aumento da sonolência. As crises podem levar ao coma e morte por parada respiratória.
• Drogas Estimulantes da Atividade Mental – quando a consequência é o estado de alerta exagerado, insônia e aceleração da mente. Nesse tópico estão incluídas as anfetaminas, a cocaína e o crack. A superdosagem podem levar à parada cardíaca.
• Drogas Modificadoras da Atividade Mental – com a consequência de delírios e alucinações. Também são chamadas de alucinógenas. Além da maconha, são incluídos o LSD, Ecstasy, anticolinérgicos derivados de plantas e alguns medicamentos. Os efeitos nocivos incluem o prejuízo da memória e atenção, tremores, taquicardia, infertilidade dos homens, alucinações e depressão.
• Outras Drogas, incluem o tabaco, com efeitos como doenças cardiovasculares, respiratórias e câncer e os esteroides anabolizantes, que substituem o hormônio masculino Testosterona. Seu uso pode levar a diversas doenças. Além disso, a droga lícita mais utilizada, com efeitos devastadores, quando excede o uso moderado, é o álcool. Estudos comprovam que o uso indiscriminado de álcool tem como consequência os problemas familiares, físicos, financeiros, profissionais, sociais e legais.

Muitos hospitais e clínicas oferecem o tratamento contra drogas gratuitamente. O dependente químico deve frequentar sessões de terapia em grupo, para deixar as substâncias em que é dependente. Em alguns casos, o paciente continua internado, até que tenha se recuperado completamente.

Após muitos sacrifícios, muitas famílias de viciados em crack e, em alguns casos, o próprio viciado, buscam a libertação através de clínicas de recuperação de dependência química. As vagas para tratamento, mesmo em clínicas particulares, são muito disputadas e existe geralmente uma fila de espera. Mesmo que consiga ficar longe da droga por um ano o usuário ainda não está garantido contra o vício, pois as estatísticas demonstram que 90% volta a usar a droga, se não existir uma forte determinação pela cura.

O crack é uma droga que vicia rapidamente, porque age no sistema regulador de prazer do cérebro. A abstinência é difícil e nem todos conseguem suportá-la. É preciso muita determinação, esforço do paciente, apoio e serviço competente para tirá-lo dessa situação. As estratégias que antes funcionavam com dependentes de outras substâncias ou alcoolismo parecem alcançar poucos resultados com os usuários da pedra do crack. O tratamento específico para esse tipo de dependência se transformou em um desafio, tanto para quem trata, quanto para o dependente. A cura passou a ser encarada como uma grande vitória, para psiquiatras e psicólogos que atuam na área da recuperação química.

A resistência do usuário é a principal dificuldade para o tratamento quando se trata de crack. A dificuldade de adesão é um problema que, infelizmente, supera a deficiência no número de vagas disponíveis.

Os CAPS ( Centros de Atenção Psicossocial), nos municípios, constituem uma rede de atenção à saúde mental, vinculados ao SUS e atendem centenas de usuários por mês. Desses, um grande número chegam com a saúde tão debilitada que têm de ser encaminhados a um hospital. O atendimento público geralmente tem estrutura deficiente e as filas são longas, a espera costuma ser de 15 dias a dois meses. Nesse meio tempo, muitos dependentes desistem e voltam ao uso da droga. A rede de atendimento público tem dificuldades em atender ao que é uma verdadeira epidemia, principalmente entre jovens e crianças.

Narcóticos Anônimos

Os Narcóticos Anônimos é um programa bem sucedido voltado para a recuperação de dependentes químicos, com o tratamento para pessoas dependentes de drogas ilícitas. O atendimento é em grupo e gratuito, com acompanhamento médico, psicológico e terapias de reabilitação do dependente. A adesão espontânea do paciente é essencial para conseguir sucesso no tratamento. Visite o site dos Narcóticos Anônimos para outras informações.

Fonte: https://www.clinicaama.com.br/blog_ver.php?id=4