INSTRUÇÃO: A partir da leitura dos textos motivadores e com base nos conhecimentos construídos ao longo de sua formação, redija texto dissertativo-argumentativo em modalidade escrita formal da língua portuguesa sobre o tema: "O problema da invisibilidade social no Brasil" 
 
Texto I

 

 Pesquisa mostra que a invisibilidade pública está especialmente ligada à segregação das classes sociais

 O professor Fernando Braga da Costa é doutor em Psicologia Social e professor do Departamento de Saúde Coletiva da Faculdade de Medicina de Jundiaí, São Paulo. Ele esteve em Maringá para ministrar uma palestra no Sinteemar e participar de uma banca de defesa de dissertação de mestrado no Departamento de Ciências Sociais da UEM. O Jornal da UEM aproveitou a vinda dele para conhecer mais de perto uma pesquisa acerca da invisibilidade social.

Costa ficou conhecido por sua obra chamada Homens Invisíveis. Ela é baseada numa experiência pessoal para um trabalho de pesquisa. “Durante dez anos trabalhei como gari dentro da cidade universitária da USP, duas vezes por semana. Comecei fazendo iniciação científica e, depois, virou mestrado e doutorado. Queria perceber o impacto de enfrentar essa situação não só sob o aspecto das condições insalubres de trabalho, mas entender a própria situação psicossocial na qual o trabalhador braçal se encontra. Percebi que há uma grande dificuldade da gente se situar num lugar simbólico que é diferente do que a gente está habituado, na condição de professor universitário ou de profissional liberal. Tudo muda. A maneira como as pessoas te recebem, a maneira como você é visto ou não visto, no caso dos garis.”

O professor relatou um caso que ilustra bem toda a experiência. Contou que um professor vizinho de bairro dele costumava encontrá-lo eventualmente nos finais de semana. “Ele me chamava pelo nome, inclusive. ‘O Fernando, com é que você está?’ . E eu respondia: ‘Tudo bem’ . Certa vez, dois dias depois de um desses encontros ocasionais, ele esbarrou em mim dentro da cidade universitária. Não só não me reconheceu como também não me cumprimentou. Obviamente, nesse dia eu estava trajado com uniforme de gari, varrendo. Não há nada que explique aquele fato a não ser de eu estar com roupas diferentes das usuais”.

Para Costa, os garis, de modo geral, têm consciência da invisibilidade. “Nós é quem não sabemos. Nós, os cegos psicossociais, é que somos ignorantes sobre a invisibilidade que nós próprios reproduzimos com esses trabalhadores”. Prova dessa consciência plena e absoluta, explica o professor, é que, se repararmos, raros são os trabalhadores braçais que usam uniforme fora do local de trabalho. “Sempre que possível, eles trocam a roupa de trabalho, inclusive porque o uniforme não é uma roupa pessoal, é uma roupa que faz com que todos nós pareçamos idênticos uns aos outros, coisa que ninguém é”, complementa.

Origens – Mas, de onde surge essa invisibilidade? Segundo Fernando Costa, é impossível falar a respeito disso sem recorrer à história humana, de uma forma geral. “Isso é sustentado por dois fatores ou pelo cruzamento de dois conjuntos de fatores sociais e psicológicos. A gente pode associar o fenômeno da invisibilidade pública especialmente à segregação social em classes, coisa que não é invenção do capitalismo, mas que o capitalismo perpetua, naturaliza. Isso também é sustentado por aspectos psicológicos. Isto é, avaliações individuais de pessoa para pessoa. Portanto, se refere à sensibilidade a partir da presença de alguém perto dessas pessoas. De qualquer maneira, tudo isso é bastante complexo e nunca é facilmente inteligível, porque demanda sempre um estudo crítico não superficial. Eu resumiria da seguinte forma: há aspectos na invisibilidade que tem a ver com essa segregação social. Em outras palavras, quanto mais distante de mim, socioeconomicamente falando, maior a probabilidade de um sujeito ficar automaticamente invisível aos meus olhos. Quando essa proximidade é maior, raramente se dá esse fato.” (…)

(www.jornal.uem.br)

 

Texto II

 

 (charges.uol.com.br)

 

Texto III

 

 Problema Social (Seu Jorge)

Se eu pudesse eu dava um toque em meu destino
Não seria um peregrino nesse imenso mundo cão
Nem o bom menino que vendeu limão e
Trabalhou na feira pra comprar seu pão

Não aprendia as maldades que essa vida tem
Mataria a minha fome sem ter que roubar ninguém
Juro que nem conhecia a famosa funabem
Onde foi a minha morada desde os tempos de neném
É ruim acordar de madrugada pra vender bala no trem
Se eu pudesse eu tocava em meu destino
Hoje eu seria alguém

Seria eu um intelectual
Mas como não tive chance de ter estudado em colégio legal
Muitos me chamam pivete
Mas poucos me deram um apoio moral
Se eu pudesse eu não seria um problema social
Se eu pudesse eu não seria um problema social

 

Texto IV