O neoliberalismo define certa norma de vida nas sociedades ocidentais, e, para além dela, em toda as sociedades que as seguem no caminho da "modernidade". Essa norma impõe a cada um de nós que vivamos num universo de competição generalizada, intima as assalariados e as populações a entrar em luta econômica uns contra os outros, ordena as relações sociais segundo o modelo do mercado, obriga a justificar desigualdades cada vez mais profundas, muda até o indivíduo, que é instalado a conhecer a si mesmo e a comportar-se como uma empresa.
Pierre Dardot e Christian Laval. A nova razão do mundo: ensaio sobre a sociedade neoliberal, 2016.
As mais soberbas pontes e edifícios,
o que nas oficinas se elabora,
o que pensado foi e logo atinge
distância superior ao pensamento,
os recursos da terra dominados,
e as paixões e os impulsos e os tormentos
e tudo que define e o ser terrestre
ou se prolonga até nos animais
e chega às plantas para se embeber
no sono rancoroso dos minérios,
dá volta ao mundo e torna a se engolfar
na estranha ordem geométrica de tudo,
(...)
Carlos Drummond de Andrade,"A máquina do mundo", de Claro Enigma, 1951.
Aqui tudo parece que era ainda construção e já é ruína
Tudo é menino, menina no olho da rua
O asfalto, a ponte, o viaduto ganindo pra lua
Nada continua...
(...)
Alguma coisa está fora da ordem
Fora da nova ordem mundial
Caetano Veloso, Trecho da música Fora de Ordem, 1991.