"O policial é treinado para ser guerreiro e forte. Esse preconceito contribui para que o policial não procure ajude, se isole", afirmou o ouvidor. Em 85% dos casos de suicídios, o instrumento utilizado pelo policial foi a arma de fogo. "Para ele não perder a arma, com que ele faz bico em hora extra, ele deixa de procurar ajuda psíquica, é um outro problema encontrado", complementou.
No ano passado, por exemplo, um auxiliar de papiloscopia, que atuou na Polícia Civil por 11 anos dos seus 38 de vida, mas que não teve a identidade revelada, se suicidou durante a folga em São Paulo. Francisco*, deu um tiro na própria cabeça. Era bastante reservado no ambiente de trabalho.
Rogério Giannini, presidente do CFP (Conselho Federal de Psicologia), afirmou que o índice da Polícia Civil é "alarmante". "Se a gente olhar na sociedade como um todo, a gente diria que há um sintoma que mostra que algo não está indo bem. E a polícia faz parte desse sintoma", pontuou.
Beatriz Brambilla, do CRP (Conselho Regional de Psicologia), disse que "existe uma série de causalidades que produzem o suicídio, mas que não é uma única questão que produz. A gente precisa entender o fenômeno na totalidade. Há questões do sujeito e há questões sociais".
A PM afirma que tem um setor, o Serviço de Valorização Profissional (Sevap), que é subordinado ao Departamento Pessoal, para atender aos policiais com problemas psicológicos. No entanto, até a data de publicação desta reportagem, a corporação não passou os dados sobre atendimentos no setor, solicitados pelo G1.
Já a Polícia Civil, informou que não há dentro da corporação um setor que ofereça apoio psicológico aos servidores. Através da assessoria, a Polícia Civil afirmou que "a procura por apoio psicológico deve ser voluntária, de iniciativa do servidor policial. Um chefe imediato, que identifique alguma alteração de comportamento do subordinado, aciona o Departamento Médico da Polícia Civil (Demep), que vai encaminhar profissionais para acompanhar e avaliar o desempenho do servidor, recomendando, se necessário, que ele procure por apoio. Se o servidor policial reconhecer que precisa de apoio, o Demep vai orientá-lo nesse sentido".
Em entrevista ao G1, o secretário da Segurança Pública da Bahia, Maurício Barbosa, falou sobre o acompanhamento psicológico dos policiais civis e militares. Para ele, é tão importante quanto o condicionamento físico do preparo do policial para adentrar a carreira policial.
"O que nós estamos fazendo é reestudar todo o ciclo de vida funcional dos nossos servidores. O que nós temos que fazer é melhorar a forma de acompanhar esses policiais e termos provas, critérios de avaliação para que esses profissionais sejam avaliados de tempos em tempos e até condições que o estado tenha a dar para que esses profissionais se recuperem de distúrbios psicológicos que eles venham a sofrer durante o exercício da sua carreira”, disse.